As cidades são sistemas complexos. Desde as primeiras necrópoles pré-históricas até as contemporâneas megalópoles, as cidades nascem, crescem e desenvolvem-se a partir de fatores sociais, culturais, políticos, tecnológicos. No século XVII, a ciência e a tecnologia tornam-se importantes para o desenvolvimento do espaço urbano. A era industrial que se inicia no século XVIII vai moldar a modernidade e criar uma urbanização planetária. Hoje, em pleno século XXI, as novas tecnologias de comunicação e informação imprimem novas marcas ao urbano. As cidades digitais são as cidades da globalização, onde as redes telemáticas fazem parte da vida quotidiana e constituem-se como a infraestrutura básica e hegemônica da época.
O termo Cidade Digital (ou Cibercidade) abrange quatro tipos de experiências que relacionam cidades e novas tecnologias de comunicação. Em primeiro lugar, e parece ter sido essa a origem do termo, entende-se por Cidade Digital projetos governamentais, privados e/ou da sociedade civil que visam criar uma representação na web de um determinado lugar. Cidade Digital é aqui um portal com informações gerais e serviços, comunidades virtuais e representação política sobre uma determinada área urbana. Um dos projetos pioneiros foi “De Digitale Stad”, da cidade de Amsterdã, criado em 1994 por uma organização civil hoje transformada em entidade de utilidade pública.
Entende-se, em segundo lugar, por Cidade Digital, a criação de infraestrutura, serviços e acesso público em uma determinada área urbana para o uso das novas tecnologias e redes telemáticas. O objetivo é criar interfaces entre o espaço eletrônico e o espaço físico através de oferecimento de teleportos, telecentros, quiosques multimídia e áreas de acesso e serviços. Há inúmeras iniciativas no Brasil. O Ministério das Comunicações elaborou um Plano Nacional de Cidades Digitais para levar banda larga a todo o país. O objetivo é articular ações de inclusão digital, levando acesso à internet para toda a população em cinco anos.
Um terceiro tipo de Cidade Digital refere-se a modelagens 3D a partir de Sistemas de Informação Espacial (SIS, spacial information system e GIS, geographic information system) para criação de simulação de espaços urbanos. Esses modelos são chamados de “CyberCity SIS” e são sistemas informatizados utilizados para visualizar e processar dados espaciais de cidades. As simulações ajudam no planejamento e gestão do espaço, servindo como instrumento estratégico do urbanismo contemporâneo.
A quarta categoria, que podemos chamar de “metafórica”, é formada por projetos que não representam um espaço urbano real. Estes projetos são chamados por alguns autores de “non-grounded cybercities”, cidades não enraizadas em espaços urbanos reais. Essas Cidades Digitais são sites que criam comunidades virtuais (fóruns, chats, news, etc.) utilizando a metáfora de uma cidade para a organização do acesso e da navegação pelas informações. Nesse caso, não há uma cidade real, como por exemplo, “Twin Worlds”, “V-Chat”, “DigitalEE” ou o popular “Second Life”.
Brasil acompanha a tendência mundial
Atualmente, as tecnologias e redes sem fio imprimem novas transformações sociais (redes de sociabilidade por SMS, micro-blogging), novas práticas culturais (acesso e consumo da informação em mobilidade) e novos desenhos no espaço urbano (zonas de acesso para Wi-Fi e celular, navegação por GPS, mapeamento, geolocalização). As cidades entram na era da computação ubíqua, embarcada, móvel. Exemplos dessa nova estrutura de conexão podem ser encontrados em várias cidades. No Brasil estão sendo implementados projetos de redes sem fio em Almerin (PA), Belo Horizonte (MG), Ouro Preto (MG), Parintins (AM), Piraí (RJ), Sud Menucci (SP), entre outras. Podemos dizer que o Brasil tem acompanhado a tendência mundial, já que encontramos as quatro categorias no país (portais governamentais, telecentros, redes wi-fi, GIS, Second Life...).
As metrópoles são hoje cidades “desplugadas”, ambientes de conexão envolvendo o usuário em mobilidade, interligando máquinas, pessoas e objetos no espaço urbano. Os lugares tradicionais, como ruas, praças, avenidas estão, pouco a pouco, transformando-se com as novas práticas socioculturais de acesso e controle da informação. A máxima que reza que o ciberespaço desconecta-se do espaço físico não se sustenta atualmente. A cidade contemporânea caminha para se transformar em um lugar de conexão permanente, ubíquo, permitindo trocas de informação em mobilidade criando “territórios informacionais”.
Em todas as acepções do termo, fica evidente que por Cidade Digital não podemos pensar em um espaço abstrato na Internet. Devemos compreendê-la como uma nova dimensão do urbano, e não como uma “outra” cidade, como um espaço “virtual” ou como uma “cidade na internet”. Trata-se efetivamente de uma reorganização das cidades existentes, fruto da nova relação entre o espaço urbano (e suas práticas) e as tecnologias digitais de informação e comunicação. Cidades Digitais são as aquelas em que a interface de redes e tecnologias informacionais com o espaço urbano já é uma realidade.
O objetivo maior dessa nova infraestrutura é promover o vínculo social, a inclusão digital, democratizar o acesso à informação, produzir dados para a gestão do espaço, aquecer as atividades políticas, culturais e econômicas e reforçar a dimensão pública. O desafio é criar formas de comunicação e de uso do espaço físico, favorecer a apropriação social das novas tecnologias e fortalecer a democracia com experiências de governo eletrônico e cibercidadania. A atual revolução na infraestrutura urbana é uma das mais fundamentais mudanças no desenvolvimento das redes urbanas desde o começo do século passado.
* André Lemos ( O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ) é professor associado da Facom/UFBa, coordenador do Grupo de Pesquisa em Cibercidade (GPC/Facom-UFBA, credenciado pelo CNPq), consultor da FAPESP, CNPq e CAPES. Mais informação emhttp://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/andrelemos
Nota: uma versão desse texto foi publicado como Verbete do "Critical Dictionary of Globalisations", disponível no site do Groupe d'Etudes et de Recherches sur les Mondalisations, in www.mondialisations.org, 2006.
Município ganha praças digitais
Com o objetivo de incentivar nos moradores o acesso à internet e promover a inclusão digital, o município goiano de Anápolis lançou no dia 22 de setembro o projeto Praças Digitais. Por meio dele, seis espaços públicos da cidade terão o sinal liberado: as praças Americano do Brasil, Bom Jesus, Abílio Wolney (Praça do Ancião), Dom Emanuel e Badia Daher, e o Parque Ipiranga. Nas praças Americano do Brasil e Bom Jesus, além da rede de internet, a prefeitura de Anápolis disponibilizou telecentros com 10 computadores cada. Nos demais locais, para utilizar o benefício, o usuário terá que utilizar equipamentos próprios. A iniciativa faz parte do programa Anápolis Digital, voltado para a inclusão digital no município de 335 mil habitantes, segundo o censo de 2010.
O projeto inclui ações de alfabetização digital, capacitação para professores, agendamento online de consultas e monitoramento da cidade em tempo real, além de telecentros e o Expresso Digital – um ônibus com computadores e internet gratuita. “Essa ação da prefeitura de Anápolis representa o interesse em dialogar mais com o cidadão. A internet ainda é um indicador de desenvolvimento econômico, cultural e social e, por isso, a cidade está investindo nesse projeto”, disse o secretário municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação, Fabrízio Ribeiro. A pasta é responsável pela implementação do programa Anápolis Digital.
Assista ao vídeo sobre o assunto: http://www.youtube.com/watch?v=rffCkWGORI4&feature=youtube_gdata_player
Leia também: Anápolis aposta em plano diretor para estruturar Cidade Digital
Fonte: Daniela Oliveira, com informações do Portal da Prefeitura de Anápolis
Data: 28 de setembro de 2011
Brasil é recordista de inscritos no Ranking Motorola de Cidades Digitais
Com um aumento de mais de 130% em relação à edição anterior, o Brasil tem 44 municípios inscritos para participar do Ranking Motorola de Cidades Digitais 2011. No total, 220 municípios e 10 territórios de 16 países da América Latina participarão do ranking, que apontará as 25 cidades mais avançadas da região no que se refere ao uso da tecnologia. Em 2009, São Paulo ficou em primeiro lugar e Salvador, em 12º. A Argentina aparece depois do Brasil em número de inscritos, com 36 cidades e três territórios. Em seguida vem à Colômbia (32 cidades), México (27 cidades e um território), Chile (25 cidades), Peru (20 cidades e três territórios) e Equador (11 cidades).
Completam a relação de países a Costa Rica (9 cidades), Venezuela (6), Bolívia (3), Uruguai (três territórios), Panamá (2 cidades), Guatemala (2), Nicarágua (1), Paraguai (1) e Honduras, que estreia com uma cidade inscrita. O total representa um aumento de 50% na quantidade de participantes em relação à primeira edição. “Estamos muito entusiasmados com o nível de participação que o Ranking Motorola de Cidades Digitais alcançou. Isso demonstra que os governos municipais e regionais estão verdadeiramente comprometidos com o desenvolvimento tecnológico de suas comunidades, o que impactará não somente no aspecto econômico, mas também em uma melhoria na qualidade de vida dos cidadãos em geral”, diz Miguel Martínez Noguerol, vice-presidente corporativo e gerente-geral para a América Latina da Motorola Solutions. Além da classificação geral, o ranking destacará as 25 iniciativas líderes em cada uma das cinco áreas-chave de governo: Saúde, Educação, Segurança, Administração Pública e Redes Sem Fio e Mobilidade.
A edição atual tem como novidade a inclusão dos territórios – áreas ou regiões integradas por mais de um município com um projeto tecnológico comum, que competirão em uma categoria distinta. Os resultados serão anunciados até o fim do ano. Confira as cidades brasileiras que concorrem ao ranking 2011:
Histórico
Realizada em 2009, a primeira edição do Ranking Motorola de Cidades Digitais reuniu 150 cidades de 15 países da América Latina. Do Brasil participaram 21 municípios: Tauá (CE), Vitória (ES) e Foz do Iguaçu (PR); Camaçari e Salvador (BA); Elói Mendes e Poços de Caldas (MG); Lajeado e Senador Salgado Filho (RS); Japeri, Mangaratiba, Quatis, São José do Vale do Rio Preto e São João de Meriti (RJ); Itanhaém, Jaú, Osasco, Pedregulho, Quadra, Rincão e São Paulo (SP).
Apenas São Paulo e Salvador foram classificadas no ranking final, com a capital paulista na primeira posição geral e a cidade baiana em 12º lugar. Completaram o top 5 as cidades de Chihuahua (México), Mérida (México), San Luis (Argentina) e Guadalajara (México).
Leia também:
Data: 16 de setembro de 2011
Autor: Daniela Oliveira, com informações da Motorola Solutions
Cidades Digitais têm destaque no Futurecom 2011
As aplicações e soluções tecnológicas voltadas para as cidades estão entre os temas em debate no Futurecom 2011, o maior encontro do setor de Comunicações da América Latina. A expectativa é que cerca de 15 mil pessoas, de 40 países, circulem pelo evento, que acontece no Transamerica Expo Center, em São Paulo, de 12 a 14 de setembro. A programação inclui um congresso internacional, com apresentações dos mais destacados profissionais da área de TI do Brasil e do exterior, e uma feira que, em 2010, trouxe ao país 240 expositores para demonstrar seus serviços em um espaço de mais de 20 mil metros quadrados.
Entre os convidados desta edição para palestras, keynotes e painéis estão o ex-ministro da Ciência e Tecnologia e atual presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg; o ministro das Comunicações da Colômbia, Diego Molano Vega; e o presidente da Telebrás, Caio Cézar Bonilha Rodrigues. Também participam do evento o colunista John C. Dvorak, da PC Magazine e o cientista-chefe da IBM, Fabio Gandour, além de executivos de grandes empresas do setor, como EMC, Nokia, Oracle, Siemens, TIM, Telefônica, GVT, entre outras.
As Cidades Digitais e as aplicações tecnológicas que facilitam a vida de governos e cidadãos estão abordadas em palestras e painéis. Um deles, "Cidades Inteligentes, Melhorando a Segurança e a Qualidade de Vida dos Cidadãos", tem como coordenador o ex-integrante do BOPE e consultor Rodrigo Pimentel – autor do livro "Elite da Tropa", que deu origem ao filme "Tropa de Elite", um dos maiores sucessos da história do cinema nacional. O objetivo é discutir como a digitalização e a conectividade dos sistemas de informação permitem a autoridades da área de Segurança captar, analisar e integrar dados, respondendo com mais inteligência às necessidades dos cidadãos.
O painel, na segunda-feira (12/9), das 16h às 17h10, conta com a participação de representantes da Oi, NEC, Telefônica, Anatel, ZTE, IBM, Motorola Solutions, Claro e Cisco.
Grandes eventos
Já a forma como as cidades brasileiras podem usar a tecnologia para receber melhor os grandes eventos esportivos que vão chegar ao país nos próximos anos é tema da palestra "Novas Tecnologias de Missão Críticas para a Segurança Pública e Cidades Aplicadas aos Grandes Eventos". A Motorola Solutions compartilha sua experiência em eventos como os Jogos Pan-Americanos, Olimpíadas e Copas do Mundo, apresentando ferramentas que o país poderá utilizar em 2014 e 2016.
O palestrante, Joeval de Oliveira Martins, é gerente sênior de desenvolvimento de negócios da Motorola Solutions para a Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016. Ele é o responsável na empresa por desenvolver negócios nas áreas de radiocomunicação, banda larga sem fio e serviços para Estados e municípios. A palestra é às 17h20 da segunda-feira. Já na terça-feira (13), o gerente de Operações da empresa Radwin, Roni Weinberg, e o diretor geral para o MERCOSUL, Wilson Richard Conti, apresentam soluções para Cidades Digitais e conectividade inteligente. No mesmo dia, Mauricio Santos Maciel, gerente de prospecção de produto da Medidata Informática, e o gerente de vendas Marcelo de Sousa Rodrigues apresentam o conceito das soluções de Gerência de Serviços Públicos de Emergências, voltadas principalmente para municípios.
Além destes temas, o Futurecom 2011 tem em sua programação debates sobre o futuro da comunicação multimídia no Brasil; mobile money; utilização de aplicações na internet; aplicações móveis e negócios; cloud computing; serviços pré-pagos; cybersegurança; banda larga; marcos regulatórios, entre outros. No encerramento, o apresentador de TV Marcelo Tas fala sobre redes sociais empresariais. Mais informações sobre o Futurecom 2011 podem ser obtidas no site do evento.
Data: 09 de setembro de 2011
Autor: Daniela Oliveira